Por Alisson, PR7GA
Temos discutido em várias edições do QTC da ECRA a necessidade de valorizarmos as faixas destinadas aos radioamadores frente ao "olho gordo" que diversos outros serviços e especialmente empresas têm no precioso e limitado espaço chamado "espectro eletromagnético".
Vimos em Agosto de 2017 um sinal amarelo sendo acionado quando uma decisão da Anatel atribuiu a nossa faixa de 70cm, de 430 a 440MHz, para uso compartilhado de uma empresa de monitoramento da Embraer e dos radioamadores. Isso significa que os dois serviços têm de conviver lado a lado, e em caso de interferência mútua, tem de haver coordenação a fim de cessarem as interferências.
Em termos práticos, esta decisão, até o momento, trouxe pouco ou nenhum impacto para nós, já que o uso que a empresa faz da faixa de 70cm é esporádica. Por outro lado, observando-se a exposição de motivos da Anatel, é dito que a empresa, antes mesmo de receber esta autorização, já operava de forma extraordinária na faixa, e ninguém notou. Por esta razão, alega-se que assim emanam causará problemas aos radioamadores.
Observamos, agora em 2019, um movimento bem mais ousado contra os radioamadores, mas desta vez, a nível mundial e com impacto imediato sobe uma faixa bastante utilizada em todo o mundo: a faixa de 2 metros, de 144 a 148MHz. A França encaminhou uma proposta para dividir pela metade esta faixa, tirando-a das mãos dos radioamadores e entregando para o serviço móvel aeronáutico. Este serviço ficaria com 144-146, e o radioamadorismo, com 146 a 148.
A proposta é tão absurda que quando a notícia surgiu, duas semanas atrás, o QTC da ECRA julgou-a irrelevante, estapafúrdia. Infelizmente, não é o caso. A proposta realmente existe, tem consistência e, de fato, ameaça uma das faixas mais populares do radioamadorismo mundial. Veja que não é o mesmo caso do ocorrido aqui no Brasil com a faixa dos 70cm. A proposta francesa quer literalmente, nos expulsar, dando ao serviço móvel aeronáutico o uso primário da faixa!
A França apresentou esta proposta (item 1.10) junto à Comissão Européia dos Correios e Telecomunicações, a CEPT, uma entidade que congrega e representa os países europeus no tocante às telecomunicações. É algo com uma super-Anatel, mas a nível continental. Por sua vez, esta entidade irá representar a Europa na Conferência Mundial de Radiocomunicação (WRT-19) que será realizada em Outubro deste ano, no Egito, e, caso aprovada a nível europeu, será levará para discussão na WRC e, queira Deus que não, seria adotada a nível mundial.
Como justificativa, é o mesmo blá blá blá: falta de espaço para comunicações vitais e alegada FALTA DE USO da faixa de radioamadores. Por conta disso, os radioamadores europeus estão organizando um movimento a nível continental para ocupar a metade inferior da faixa de 2m para mostrar que, longe de estar desocupada, ela tem bastante uso.
Os portugueses fizeram o primeiro movimento, e foi um sucesso. Pelo facebook, o colega José Machado, CT1BAT, informou que a mobilização organizada para o dia 15/06 foi um sucesso. Nas palavras dele, "Todos, de norte a sul do país, pudemos testemunhar que os radioamadores estão unidos! E estavam ansiosos por voltar a usar a sua banda de VHF".
Os portugueses fizeram o primeiro movimento, e foi um sucesso. Pelo facebook, o colega José Machado, CT1BAT, informou que a mobilização organizada para o dia 15/06 foi um sucesso. Nas palavras dele, "Todos, de norte a sul do país, pudemos testemunhar que os radioamadores estão unidos! E estavam ansiosos por voltar a usar a sua banda de VHF".
Um colega radioamador francês, analisando a questão, disse que uma possível justificativa para escolherem justo a faixa de 2m é estratégica: ela tem destinação mundial única: os radioamadores. Se escolhessem qualquer outra faixa, teriam que brigar praticamente com o mundo todo, pois em cada país há destinações diferentes para cada faixa. No caso, vencidos os radioamadores, pronto: a faixa é deles.
Só para se ter uma ideia, caso esta proposta seja adotada, teríamos de dar adeus a CW, SSB, satélites, APRS, repetidoras, comunicação com a ISS, além do fato de perdermos METADE da faixa.
Dito tudo isto, afirmamos que não há, no presente momento, motivo para pânico. A proposta francesa ainda tem de ser aprovada a nível euriopeu, e só então seguiria para análise a nível mundial. Porém, o radioamadorismo deve ficar ciente que esta é uma ameaça real, embora, no momento, esteja distante. Devemos estar atentos e cuidar muito bem de nossas faixas, procurando ocupá-las de forma consistente e legal, e não ocupar faixas que não são nossas, como é o caso deplorável e criminoso da tal "faxinha".
O radioamadorismo tem uma entidade representativa a nível mundial, a IARU, e esta já manifestou preocupação quanto a este assunto e está preparada para defender os interesses dos radioamadores.
Fiquemos de olho!
In:
https://qtcecra.blogspot.com/2019/06/alerta-franca-propoe-expulsar-o.html?fbclid=IwAR1KKMrQxYZy5To6V_ea32tQ43xU_TL-vprplgdpkQzyqqG5cmP8-3wRBkY
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