Mensagem
da Dra. Kristalina Georgieva, Comissária da União Europeia para a Cooperação
Internacional, Ajuda Humanitária e Resposta às Crises, aos radioamadores participantes na Conferência da IARU-R1 em 21 de setembro de 2014, em Albena,
Bulgária.
Dra. Kristalina Georgieva
"Queridos participantes da
Conferência IARU,
Queridos radio-mensageiros em tempos de
angústia e esperança
Amigos, senhoras e senhores,
É um prazer e um privilégio dirigir-me à vossa
Conferência Geral.
O calendário para a sua realização não poderia
ser mais oportuno, considerando o mundo em que vivemos e os desafios que todos
nós enfrentamos hoje.
As vidas de milhões de pessoas são afetadas
por acontecimentos preocupantes: conflitos em África e no Médio Oriente (e,
infelizmente, na Europa); desastres naturais em todo o mundo com todas as
imprevisibilidades da mãe-natureza e as responsabilidades dos seres humanos com
as Alterações Climáticas; ondas humanas de migrantes e refugiados que se
deslocam de um lugar para outro, muitas vezes arrastando desastres e
conflitos. Em suma, este é um mundo que não pára de nos surpreender a cada
manhã, quando abrimos a TV ou um jornal.
Ao mesmo tempo, o mundo nunca esteve
melhor ligado. As comunicações, hoje, são um verdadeiro milagre tal qual a
fantasia que vem dos romances de Arthur Clarke ou Rey Bradbury. Nunca
antes, tivemos esse privilégio de transmitir ou trocar informações com tal
precisão, velocidade e alcance da distribuição. E nunca antes tantas
pessoas de todos os cantos do mundo e de todas as camadas da sociedade tinham
acesso a essa informação. A chegada da internet, realmente, transformou o
nosso planeta numa aldeia global e, desde então, a nossa vida mudou para sempre
na forma como lidamos com a informação. Política, diplomacia, jornalismo, tecnologia,
ciência, pesquisa, serviços bancários, literalmente, tudo mudou da noite para o
dia, com este instrumento poderoso.
No entanto, há momentos na vida em que uma
ferramenta, boa, estável, confiável e independente, de informações é a única
que pode salvar vidas. E esta é o que, simplesmente, chamamos de RADIO.
Imaginem um grande desastre natural, que
derruba todas as ferramentas modernas de informação na área afetada: sem
eletricidade, sem internet, sem telefone e fax, nem mesmo as velhas máquinas de
telex. Não há comboios nem navios em movimento, nem estradas ou
aeroportos. Nada. Sabemos que uma tragédia aconteceu, sabemos que muitos
estão mortos e mais ainda, vivos mas
presos e indefesos. E ninguém pode ajudá-los porque ninguém sabe o que
aconteceu. Porque não há nenhuma informação.
Felizmente, há um último recurso, os
radioamadores; as pessoas que são os olhos e os ouvidos do mundo no
momento em que todos os outros canais de informação estão silenciados. "Amadores"
não é realmente a palavra certa neste caso: estes são os comunicadores “profissionais”
que estão ouvindo as batidas do coração do planeta e registrando as vibrações
emocionais de pessoas que possam estar em perigo. Em suma, vocês são o
último milagre técnico, independente, confiável, um canal de informação que
pode transmitir uma importante peça de notícias a partir de qualquer lugar do
mundo, a qualquer hora, por qualquer pessoa que sabe como operar essa maravilhosa
criatura, chamada rádio.
A sua vantagem é que você é
independente. Um radioamador bem treinado, com bom equipamento e as
baterias sempre carregadas pode ser uma fantástica ligação entre duas aldeias,
dois países ou dois continentes. Quando organizados, vocês são uma
superpotência de comunicação face à total escuridão eletrónica. Mas a
parte mais importante do seu equipamento são as pessoas; os corajosos homens
e mulheres que escutam pessoas que possam estar em perigo e podem precisar de
ajuda; os “profissionais” salva-vidas chamados amadores. Estranhamente, no
entanto, atuam como “voluntários” quando e onde eles são necessários.
Na história, vocês têm muitos exemplos de
vidas salvas, porque algum de vós escutou um sinal de uma aldeia, de uma região
ou um lugar inacessível onde alguém precisava de ajuda. Precisamos das
vossas habilidades e serviços, porque vamos ter mais e mais desastres no
futuro. As estatísticas revelam tendência para secas preocupantes: durante
os últimos 20/30 anos, o número e a intensidade das catástrofes naturais têm
aumentado drasticamente. O mesmo aconteceu com o número de pessoas mortas
ou afetadas. O terramoto no Haiti, em 2010, matou 230.000 pessoas... Entre
2003 e 2012, cerca de 6 700 desastres atingiram o planeta sendo 2005 o mais
negro: 810 desastres no ano. Os tufões nas Filipinas, as inundações no
Paquistão, na China e na Europa, secas e fome em África, confrontada com
conflitos quase diários. Os custos desses desastres subiram de US $50
bilhões a US $200 bilhões por ano, desde os anos 80.
Um voluntário da Cruz Vermelha dir-lhe-á
que, durante um desastre que o elemento mais necessário e precioso não é
comida, água ou medicamentos. É a informação oportuna e precisa, que é o
mais necessário. Informações oportunas e precisas salvam vidas, evitam
grandes tragédias, abafam rumores que criam pânico e levam, ainda, a mais
baixas. Esta é a forma como a informação sólida se torna a espinha dorsal
de uma estratégia de comunicação bem sucedida. Em suma, tudo o que vocês
fizerem para ajudar as sociedades a se organizarem melhor, é vital. As
autoridades locais e nacionais podem contar convosco como o último bastião do
canal de informação confiável. As vossas habilidades profissionais e
vossos deveres humanitários torná-los-ão mais do que radioamadores; vocês
são, realmente, os necessários guardiões do templo dos problemas e espero que
vocês sejam, sempre, um pilar de esperança e coragem para todos
os que estão em perigo.
Obrigados pelo vosso nobre
trabalho. Desejo-lhes todo o sucesso desta Conferência. "
Kristalina Georgieva
(tradução integral por CT1BAT)
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